terça-feira, 8 de dezembro de 2009

adeus vital

despedida:
me matou na saída
para eu poder estar viva.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

sobre (não) estar só

saber estar só é compreender-se nunca sozinha
nunca esvaziada
eu carrego, em momentos de tormento
ou contentamento, aquelas que me preenchem

mesmo em silêncio, quieta no vazio do nada,
não estou só

as vozes que me compõem
saltam em cada gesto,
em cada fio
de existência
atado à vida

e mesmo quando elas se ausentam
e me deixam vagar no vazio cômodo da solidão

poetas me dizem
e canções me revelam

estar só é saber-se nunca sozinha

(ou não)

talvez seja mesmo
a ausência
algo presente:

um buraco cheio de nada que habita minha alma.

domingo, 29 de novembro de 2009

"Donde se toma ciência que homem é vírgula e mulher é ponto final."

Reproduzo aqui um texto que adoro, de um escritor que amo: Xico Sá! Muso maravilhoso!

"Sim, homem é frouxo, só usa vírgula, no máximo um ponto e vírgula; jamais um ponto final.

Sim, o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas de Paulo Mendes Campos: “Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar...”

Acaba, mas só as mulheres têm a coragem de pingar o ponto da caneta-tinteiro do amor. E pronto. Às vezes com três exclamações, como nas manchetes sangrentas de antigamente.

Sem reticências...

Mesmo, em algumas ocasiões, contra a vontade. Sábias, sabem que não faz sentido prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir na morte súbita.

O homem até cria motivos a mais para que a mulher diga basta, chega, é o fim!!!

O macho pode até sair para comprar cigarro na esquina e nunca mais voltar. E sair por aí dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no Continental sem filtro da covardia e do desamor.

Mulher se acaba, mas diz na lata, sem metáforas.

Melhor mesmo para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um quebra-quebra miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro.

O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada. Nem no Crato...nem na Suécia.

Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o “the end” sem uma quebradeira monstruosa. Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava.

O mais frio, o mais “cool” dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim.

O que não pode é sair por aí assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo.

O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira criatura ou com o primeiro traste que aparece pela frente. E vamos ficando por aqui, pois já derrapei na curva da auto-ajuda como uma Kombi velha na Serra do Mar... e já já descambarei, eu me conheço, para o mundo picareta de Paulo Coelho. Vade retro."

Xico Sá, 46, é autor de "Modos de macho & modinhas de fêmea" entre outros livros. Nasceu no Crato, Cariri, cresceu no Recife e hoje ronda a noite paulistana em busca de fábulas e crônicas.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

passional

não me peça razão
não me peça motivo
o meu coração
sofre a falta de juízo.

palatável

amar cura
a amargura,

e ela toca
o
novo gosto
posto
com o corpo todo.

sábado, 14 de novembro de 2009

Eu era ela, ela era eu.

Sabe quando está chovendo e você está sozinha na única janela do apartamento? Quando acompanhada de where is my mind, no repeat, café e cigarros? Quando você imagina que aquele momento é apenas seu e de todos os pensamentos que imaginam habitar somente a sua cabeça? Quando o silêncio é denso, mas ainda assim quebrado pelo barulhinho bom da chuva e da música? Quando tudo parece noite? Quando tudo parece sonolento? Quando tudo parece perdido? Era assim que eu a via na janela de frente à minha. E foi assim que nos tornamos cúmplices e parceiras dos mesmos vícios: chuva, solidão, pixies, café, cigarros, certo silêncio e completo anonimato.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

drummondiana

havia uma pedra
no meio do existir

mas se for para cair
caia em si.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

trip hop

deixar suar o som
para soarmos
em comunhão.

tédio e teatro

fazer nada é motim
para fazer cena para você:

dançar
com o ar

cantar
até ficar sem ar

colorir
e depois rir

prosear
para encher de palavras
o livro do nosso cotidiano.

Parênteses

Aqui eu não sou eu. Aqui eu me permito ser outras. Aqui incorporo sentimentos diversos: amor, ódio, ternura, fervura, asco, paixão, dor, redenção. Incorporo e exploro sentimentos, podendo ser uma, podendo ser várias e ainda nenhuma.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

retrato de carnaval

por trás da máscara
olho morto

rosto-desalento

e a vida em volta
salta solta
em largo desatino.

quando (não) estamos

me sinto
com sono

te sinto
no sonho.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

não sou somente esta frase
não sou somente esta face

me visto em mil outras
falas e máscaras
proferidas e pintadas
no meio da tua frente

me olhe, me acerte
me vista, me sorva

(ou me renegue)

só não me tolere.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

um intervalo para a apatia

meu amor me disse para eu não ter medo do vermelho
que sai de dentro dele

porque sangue já não era
o sangue, enfim, havia estancado


meu amor me disse para eu não ter medo do vermelho
que sai de dentro dele

porque certos sentimentos são vermelhos por natural reza

e por mais que eu não goste desse vermelho in
tenso para minha falta de cor

eu poderia me permitir
e tocar o rubro

pelo menos por enquanto,
pelo menos dessa vez.

desesquecimento

quem muito remói
ainda se dói.

sobre as mulheres

quem chega no centro da essência, no meio do mistério,
no íntimo do silêncio e das palavras re(veladas)
ganha um mundo e perde os sentidos.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

pela poesia moderna

foi-se o tempo do rebuscamento
o verso se pede pouco
arrocho conciso de
imagidéia
em p a l a r v a s
quase nunca maturadas.

sem tempo para egotrip

quem se acha no centro de tudo
não conhece as beiradas dos mundos.

"Eu, você, nós dois, já temos um passado, meu amor..."

Sempre sou cúmplice de quem passeia por mim. Esteja você calçando coturno pesado de aço ou vestindo, solamente, a delicada pele do pé. Então, se em alguma turva noite curva eu me interditar, não desista de mim. Não esqueça de meus atalhos e esquinas. Através deles você chegará mais rápido ao outro lado. E eu ainda estarei em você, mesmo que sem um depois para nós. Não desista de nós dois porque o passado já nos deu de presente muitas importâncias. Sejamos eu e você, um cá, outro lá, mas sejamos. Nos doemos pelo ido. Mesmo que doídos.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

privacidade

o amor do outro para o meu íntimo
respira aliviado
na clausura do canto do quarto.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

biblioteca

ela chega para os livros
dia sim, noite não

e entre

pó,
traças,

palavras vivas,
e páginas encardíacas
ela entra nas vidas
que entram nela.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Floreias

Cheguei no blog da Camila por conta do gosto em comum pelo Raduan Nassar, através dessas listas de preferências do blogspot... desde então, não consigo deixar de lê-la. Colei aqui o link para quem quiser visitar o seu espaço:

http://floreias.blogspot.com

Fica a dica!

Beijos!

sábado, 1 de agosto de 2009

wait a minute

apague a luz do dia e desligue sua voz:

o escuro é cheio de nada
o silêncio é cheio de calma.

chuva

pingos caem
e revelam círculos-portais

ela mergulha
cai em espirais

e espirra a noite toda.

para quem se foi




um nó une nós dois


um nó que de tão atado
chega a dar um nó na garganta

um nó que de tão apertado
me deixa frouxa para a vida

um no outro como nódoa
impregnados
ainda que distanciados.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

música nervosa

o meu rádio só funciona com a pilha dos meus nervos.

terça-feira, 23 de junho de 2009

djavaneando

"nem que eu bebesse o mar
encheria o que eu tenho de fundo."

quarta-feira, 10 de junho de 2009

o tempo que vem

ansiosa, apressada
ando tropeçando nos dias
na ânsia de cair
em algum tom ameno
em alguma brisa azul
em qualquer cheiro doce
que me queira.

ciclo vicioso

em você me refaço:
final feliz
continuado.

touch me!

terça-feira, 26 de maio de 2009

meu corpo é palavra
(re)buscada
para as linhas das tuas mãos.
do ventre de um vento seco
nascido me reconheço

corroído
carcomido

sinto aridez em minha tez

e a vida sedenta
ainda me traga
a alma amarga.

terça-feira, 5 de maio de 2009

entoa palavras à toa
quem não sente o peso de pedra

de cada uma delas...
outro mar
outro mar
outro mar

(ad infinitum)

até onde a vista alcançar.

terça-feira, 14 de abril de 2009

para um vento torto


sabe qual é a diferença

entre

eu e você?

é que você não sabe viver
enquanto eu ainda insisto em aprender.


*licença para o desvio, por favor.

segunda-feira, 2 de março de 2009

amargosa

lá dentro eu sinto denso
e não há palavra que revele
a confusão e a profusão
de sentimentos líquidos e sensações escorregadias

se de dentro tudo saísse
seria um silêncio ensurdecedor
que empalideceria
as cores do dia.

amor

gozo
de se dar

gozo
de se doer.

sambinha de uma nota só

eu quero que você me diga
por onde você tem andado

e o que é que você
tem dado por aí

amor, ilusão, intriga
eu quero que você me diga

antes que desapareça
novamente por aí.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Definição

Saudade

[Do lat. solitate, ‘soledade’, ‘solidão’, pelo arc. soydade, suydade, poss. com infl. de saúde.]


Substantivo feminino.


1.
Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

in natura

eu rio
f l u i d o
e

c
h
o
v
o


lágrimas de alegria.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

o sol lança
garras de luz

e o dia se rasga
em zil azuis.

pulsação

por v(e)ias dilatadas
teu coração urbano
se enche de caos

a cidade ainda pulsa,
mas te expulsa.
perdida no meu tempo
solta no teu espaço
paralisada na ação cotidiana

acelero pensamentos.

manhãzinha

botão de laranjeira
abotoado em meu jardim

a marca de lençol
ainda fixa na pele fina

cheiro de café
invadindo
o silêncio da conversa

e da vista da janela
o mundo todo
solto e azul.