terça-feira, 16 de dezembro de 2008

aceitação

colado às paredes
escusas
escuras
(sem rupturas)
meu corpo
e teu corpo

movimentos em feixes
teus braços-peixes
escorregam
e me dizem
sempre um sonoro sim
carregado de língua vermelha

estridente entre os teus dentes
um sonoro sim
sempre marcado
(nunca cerrado)
um sonoro sim
que me afeta, me acerta,
me ergue, me abre, me explora,
me tinge, me sua e me situa.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

calmaria

de frente para o mar
águas adormecidas
o mar sereno, sonâmbulo.
eu rasgo todo tipo de atraso:
pedaços picotados de tempo
jogados janela abaixo.

inércia moderna

pois quando tudo é nada
parece que os lençóis da nossa cama
perdem as cores
parece que o café da nossa cozinha
fica frio
e o filme da sala de espera
parece que sempre nos espera
e nunca começa.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

unhas vermelhas
boca na carne do batom
um alto salto
e ela chega para as luzes
da alta noite quente

passos, pessoas
encontros pelos cantos
e uma vontade repartida
entre fazer tudo escondida
entre fazer tudo à deriva.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

receita para se ter um bom dia

a palavra posta
na mesa da tua manhã:

café
comida
e saliva perdida.

terça-feira, 15 de julho de 2008

silenciada

a língua seca

obcecada

em não dizer nada.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

no papel da folha
a caneta pinga tinta

e eu peço uma pinga.

para se chegar no cerne

sugar seiva
e suar essência.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

diluindo a sede

saudade do salgado suor
que salta de teus poros
e vira água sagrada
para meu corpo deserto.

terça-feira, 29 de abril de 2008

presente tempo

um dia, uma noite
vários dias, várias noites
o tempo é agora
o agora é eterno

é ameno, é intenso
é dividido em micro-tempos
que nos sugam para uma realidade paralela
e avessa a tudo que não seja cor de vinho

um tanto de tempo
que não sei mais quanto dura
nem o quanto se prolonga

mas que sempre me arrasta

mas que sempre se arrasta
e mais que nunca me atravessa.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Suave Céu Intenso


"Eu fiquei grávida num domingo de manhã. Tinha um cobertor azul de lã escura. Mateus me pegou pelo braço e disse que ia me fazer a pessoa mais feliz do mundo. Me deu um cd gravado com todas as músicas que eu mais gostava. Ele disse que queria casar comigo. Ou então morrer afogado."

(Hermila em pleno suave Céu...)

Não canso nunca de ver, rever, mastigar, engolir seco
e vomitar lágrimas por esse filme.


O Céu é a vida nua e crua, despida e vermelha,
vida real que lateja e depois derrete de tão quente,

vida onde o silêncio fala através de olhos e toques,

um silêncio denso que é mais sincero que tudo.


Também tenho ouvido "Tudo Que Eu Tenho", interpretada pela Diana, um zilhão de vezes,
e vem uma sensação de fios e espirais se embaralhando mais e mais dentro do peito, eu sus.piro e passa, mas volta e meia volta. Aliás, vale "ouver" toda a trilha sonora do filme, Kassin trouxe para ela uma contribuição lisérgica embriagante, Suely in the Sky!

Acho que eu passaria dias nessa viagem,
pegando todos os ônibus que me levassem

para ainda mais perto desse Céu.

Link para a cena de abertura do filme.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

pedra olhar parado
fixado na próxima ação

(aproximação)

toque, tato
a pele em pêlos
à flor do vento
à flor da brisa

toque
saliva
sangue
suor

fogo
cigarro
silêncio
calado

inspira
expira
absorve
e morre.

para os que têm pressa

a poesia
na ação do dia:

verso vivo
correndo solto
nas entrelinhas
do alvoroço.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

palavra é sangue
nas veias do poema

a palavra f(r)aca
cravada na veia vital

e o poema está morto.



"a poesia está morta
mas juro que não fui eu."

cena urbana




a janela em movimento

mas ela segue imóvel no automóvel

veloz cidade

retrovisada e refletida
em seus olhos fotografantes

quadros seqüenciais

cidadela na tela.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

um dos prazeres

a parte de cima da carne da fruta
é a parte mais doce
é a parte mais fruta

na melancia
a pele é macia
a fruta é vermelha

uma mordida
e minha língua mais doce
outra mordida
e seu vermelho-pele mais pede.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Prêmio Escritores da Liberdade

O Prêmio Escritores da Liberdade, inspirado no filme Freedom Writers, foi criado pelo blog Batom Cor de Rosa e me chegou pelas telas do Timbres e Cores e d’O poeta escreve calado, na solidão de sua alma.

O prêmio é um ótimo pretexto para a idéia de divulgar o trabalho de escritores e autores que utilizam o espaço virtual pra dividir suas emoções, seus sentimentos, suas histórias e seus textos.

Além dos cinco blogs que me cabem indicar, tomo a liberdade de também sugerir a leitura dos dois blogs supracitados.

O Timbres e Cores reúne as impressões de Polly Barros acerca do mundo. E que impressões! Ela é de uma sensibilidade e de uma lucidez que encantam. Além de seus escritos, o blog também traz recortes de outros autores, derramando muitas cores, sons e danças nas páginas da tela.

O poeta escreve calado, na solidão de sua alma, blog de George Ardilles, é humano. Muito humano. Todos os sentimentos, ânsias e inquietações que nos acompanham estão revelados na sua escrita. A solidão é pulsante, o amor é pulsante. Aqui, a vida pulsa.

Nas linhas que se seguem, vão trilhando os cinco blogs que indico, cinco escritores da liberdade, pessoas que trazem seus mundos para esse mundo:

A felicidade vai: o blog de Gilmara Joane me chamou muita atenção, de imediato, pela identificação que surgiu com o que ela escreve. Uma escrita que revela o que há de mais ordinário e vil, mas também o que há de mais doce, ingênuo e pueril nas pessoas. Tudo com uma linguagem muito concisa, enxuta e precisa!

Anteforma: foi por conta do blog de Alexandre Lima que comecei, de fato, a ler blogs com mais freqüência. A escrita de Alexandre escarra na cara. Escarra aquela vida real com cheiro de gente real e com som de ruas, casas e bares reais. Escarra nossa solidão, nossas misérias, nossos sonhos e devaneios. Há textos que me lembram roteiros de filme. E filme dos bons!

Instintos, doçuras e ferocidades – a escrita de Clarissa Marinho me chegou depois de tê-la conhecido. Aí vem a surpresa! Mesmo ela quase nunca parando em casa, porque vive nas festas desse mundo, ela ainda arrumava tempo para escrever! E com muita sensibilidade! Mesmo não gostando da síndrome dos maníacos do trechinho, vou abrir um parêntese para lembrar de Lispector:

“Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca.”

Pois então, Clarissa toca.

Letricidade – a escrita de Renálide Carvalho nasce da caneta afiada no fio da vida. A poesia dela – e nossa, porque também nos revela – está nas ruas da madrugada, nos conflitos, no que é cortante, no que provoca arrepios, dores e prazeres.

Menina Mentira: Conheci Iza num fim de noite, num bar lotado e tendo que dividirmos mesa. Parece que ela captou no ar o gosto pela literatura e o assunto não poderia ter sido outro. Mais cervejas, guardanapos e troca de endereços. Depois veio a leitura do que ela escreve... e é tudo muito bom! Escrita criativa, perturbada, um universo feminino todo exposto e muito bem posto.


Quem recebeu o selo deve repassá-lo para mais 5 blogs. Pois então, faça uma boa ação e nos indique as boas leituras que moram no seu tempo.


quando se cansava de tudo

dos gritos das paredes
daquela casa vazia

da conspiração morna
daqueles objetos mórbidos

das alucinações vividas
na sua realidade de ansiedades

quando se cansava de tudo
subia no teto da casa e voltava a ser criança

fazia bolhas e bolhas e bolhas de sabão
e voava junto com elas, dentro delas
para longe do cotidiano de ruínas frias
para perto das lembranças aquecidas pelo sol

fazia bolhas e bolhas e bolhas de sabão
e voava junto com elas, dentro delas
para mundos que (re)conhecia
para pessoas que (re)encontrava

depois latejava de felicidade
chorava e passava a habitar, então, o interior dessas lágrimas
queria viver em bolhas e gotas

mas as bolhas estouravam
e as lágrimas secavam

e o abismo a tragava de volta
e ela tragava o último cigarro vivo.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

nuvens brancas
muito densas
manto branco sobre a terra

terra quente
solo seco

chão vermelho para o homem

terra quente
solo seco

nuvens brancas
muito densas
refúgio para o homem e seus sonhos.