domingo, 29 de novembro de 2009

"Donde se toma ciência que homem é vírgula e mulher é ponto final."

Reproduzo aqui um texto que adoro, de um escritor que amo: Xico Sá! Muso maravilhoso!

"Sim, homem é frouxo, só usa vírgula, no máximo um ponto e vírgula; jamais um ponto final.

Sim, o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas de Paulo Mendes Campos: “Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar...”

Acaba, mas só as mulheres têm a coragem de pingar o ponto da caneta-tinteiro do amor. E pronto. Às vezes com três exclamações, como nas manchetes sangrentas de antigamente.

Sem reticências...

Mesmo, em algumas ocasiões, contra a vontade. Sábias, sabem que não faz sentido prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir na morte súbita.

O homem até cria motivos a mais para que a mulher diga basta, chega, é o fim!!!

O macho pode até sair para comprar cigarro na esquina e nunca mais voltar. E sair por aí dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no Continental sem filtro da covardia e do desamor.

Mulher se acaba, mas diz na lata, sem metáforas.

Melhor mesmo para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um quebra-quebra miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro.

O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada. Nem no Crato...nem na Suécia.

Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o “the end” sem uma quebradeira monstruosa. Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava.

O mais frio, o mais “cool” dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim.

O que não pode é sair por aí assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo.

O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira criatura ou com o primeiro traste que aparece pela frente. E vamos ficando por aqui, pois já derrapei na curva da auto-ajuda como uma Kombi velha na Serra do Mar... e já já descambarei, eu me conheço, para o mundo picareta de Paulo Coelho. Vade retro."

Xico Sá, 46, é autor de "Modos de macho & modinhas de fêmea" entre outros livros. Nasceu no Crato, Cariri, cresceu no Recife e hoje ronda a noite paulistana em busca de fábulas e crônicas.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

passional

não me peça razão
não me peça motivo
o meu coração
sofre a falta de juízo.

palatável

amar cura
a amargura,

e ela toca
o
novo gosto
posto
com o corpo todo.

sábado, 14 de novembro de 2009

Eu era ela, ela era eu.

Sabe quando está chovendo e você está sozinha na única janela do apartamento? Quando acompanhada de where is my mind, no repeat, café e cigarros? Quando você imagina que aquele momento é apenas seu e de todos os pensamentos que imaginam habitar somente a sua cabeça? Quando o silêncio é denso, mas ainda assim quebrado pelo barulhinho bom da chuva e da música? Quando tudo parece noite? Quando tudo parece sonolento? Quando tudo parece perdido? Era assim que eu a via na janela de frente à minha. E foi assim que nos tornamos cúmplices e parceiras dos mesmos vícios: chuva, solidão, pixies, café, cigarros, certo silêncio e completo anonimato.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

drummondiana

havia uma pedra
no meio do existir

mas se for para cair
caia em si.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

trip hop

deixar suar o som
para soarmos
em comunhão.

tédio e teatro

fazer nada é motim
para fazer cena para você:

dançar
com o ar

cantar
até ficar sem ar

colorir
e depois rir

prosear
para encher de palavras
o livro do nosso cotidiano.

Parênteses

Aqui eu não sou eu. Aqui eu me permito ser outras. Aqui incorporo sentimentos diversos: amor, ódio, ternura, fervura, asco, paixão, dor, redenção. Incorporo e exploro sentimentos, podendo ser uma, podendo ser várias e ainda nenhuma.