quando se cansava de tudo
dos gritos das paredes
daquela casa vazia
da conspiração morna
daqueles objetos mórbidos
na sua realidade de ansiedades
quando se cansava de tudo
subia no teto da casa e voltava a ser criança
fazia bolhas e bolhas e bolhas de sabão
e voava junto com elas, dentro delas
para longe do cotidiano de ruínas frias
para perto das lembranças aquecidas pelo sol
fazia bolhas e bolhas e bolhas de sabão
e voava junto com elas, dentro delas
para mundos que (re)conhecia
para pessoas que (re)encontrava
depois latejava de felicidade
chorava e passava a habitar, então, o interior dessas lágrimas
queria viver em bolhas e gotas
mas as bolhas estouravam
e as lágrimas secavam
e o abismo a tragava de volta
e ela tragava o último cigarro vivo.
2 comentários:
oh doçura.
porque tanta nostalgia?
e tristeza?!
bolhas são nostalgicas, lágrimas são tristes.
e você é uma lágrima que virou bolha.
^^
Vixe, achei incrivelmente doce e cortante!
Esse refúgio nas bolhas e gotas, essa necessidade de fugir pro telhado da infância, o desespero de (re)conhecer as pessoas, sentir-se segura no abismo do alto daquele telhado, uma fuga das paredes que gritam: Solidão!..
Belo!
Beijo pra tu :)
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